sábado, 28 de dezembro de 2013

Pra um fim de ano

Não foi fácil passar o Natal longe da família, isso eu confesso. Mas tive o previlégio de celebrar a data nos Estados Unidos, ou melhor, em Nova Iorque. Sonho que todo mundo tem após assistir o filme "Esqueceram de mim". 

Experiência única e iniguálavel. Sentir a força da saudade contra a vontade de viver o novo. 

Comecei a viagem por Chicago, neve e mais neve. Cidade linda, organizada, fácil e inimaginavelmente limpa. De uma beleza ímpar. Se alguém me perguntar qual o lugar mais lindo fora do Rio Grande, com certeza é Chicago. A cidade do ventos. É vento norte, vendo dos castelhano, o minuano, o tipo de vento que imaginar tem por lá! Andar na rua com sensação térmica de -18C é a mesma coisa que correr boi numa coxilha quebrando geada num mês de julho.

Saindo de Chicago passeis uns dias na tal New York. De cara, uma cidade suja, barulhenta e pouco agradável, típico das grandes metrópoles. Com o passar dos dias foi se aprumando. A famosa Times Square é uma loucura de luzes e gente vendendo ingressos pra shows. O Central Park é umas 5 hectares de árvores  com calçadas no meio pro pessoal caminhar. Nada muito melhor que o Rio Grande e suas belezas.

Agora me encontro na capital, Washington D.C. Onde mora o tal Obama na tal Casa Branca. Essa por vez não muito maior que o salão de um C.T.G. como disse um cumpadre por aí. Tapado de brigadiano na volta, parece um bando de ganso na taípa dum açude. 

Enfim, as belezas são distintas, dá pra escolher. Encontrei muita paisagem linda, que ficará na memória pra ser contadas em causo na beira do fogo. Senti o vento na cara mirando o pôr-do-sol relembrando o Itaroquen, imaginando que um dia eu possa proporcionar essas mesmas paisagens aos meus filhos. 

                            Pelanka Culau


sábado, 14 de dezembro de 2013

Nos invernos do agosto

Canta o galo carijó nas tábuas da mangueira,
Clareia a barra do dia nesse inverno boca braba,
Amanhece branco o potreiro da geada do agosto,
O vento norte ecoa longe nas taquara,
Os pingos encilhados, coçando a cabeça no palanque,
É Mais um dia de camperiada no sul do Rio Grande.

O poncho emalado, espantando a chuva,
A peonada cruzando o passo do meio,
Tem vaca atolada na invernada do fundo,
O olho d'agua traiçoeiro com as magras,
Faz o gateado firmar o sovel cinchando,
Tem bóia pro corvedo do capão.

É triste ver o inverno brindando a morte,
Sobrou só o brinco pra contar história,
Desse destino traiçoeiro na beira do banhado,
Os campeiros seguem rumo as casas,
Levando o preço das mangas do agosto.
No peito de peão de estância.

                                  Pelanka Culau



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Légua e pico

São tantas léguas de estrada,
Percorridas nesta vida,
Com chegadas e partidas,
Com esquinas e cruzadas.

A alma carrega o destino,
Escrito pelo Patrão;
Alimentado neste chão,
Verde pampa sulino.

Rio Grande de tropa larga,
Com suas coxilhas reluzindo,
O guacho azevém vindo,
No meio da erva amarga.

O peão retrata a imagem,
Do passado castelhano,
Que vem de ano a ano,
Embelezando essa paisagem.

                        Pelanka Culau

De onde venho

Uma tal de Vila Rica,
No tutano do meu estado,
Conta a história de um passado,
De uma cidade magnífica.

Terra do charolês,
E pencas na cancha reta,
Vinha paulista e poeta,
E ficavam por mais de mês.

Cortam a cidade os trilhos,
Que levavam da charqueada,
O trabalho daquela indiada,
Feito em Julio de Castilhos.

Ponta de gado e fazenda,
Reluziam nas coxilhas;
As tradições farroupilhas,
Serviam de oferenda.

                       Pelanka Culau

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nos mates da solidão

É triste matear sozinho,
No silêncio das saudades,
Remoendo as vontades,
Deixadas pelo caminho.

Na hora do chimarrão,
O Rio Grande se conserva,
Na alma dessa erva,
Com jujos no coração.

As cismas de mateador,
Lembradas no verde gosto,
Retratam mais um agosto,
Desse gaúcho sonhador.

Que aprendeu a ser alguém,
Com xucros peões de estância,
Mateando na sua infância,
Nos pagos do Itaroquen.

                     Pelanka Culau
















Tempos de parceria

Moçada buena dos pagos de mis amores,
Nos corredores, dançaram e correram china,
Na velha sina de vaneiras e milongas,
Que se prolonga na planície do Rio Grande.

Tenho amizades que o vento não aparta,
Sentando a marca nos bolichos de campanha,
Tragos de canha e churrasco de domingo,
Ensilho o pingo pra um rodeio bem botado.

Moçada buena dos pagos de mis amores,
Nos corredores, dançaram e correram china,
Fazendo faxina nos bailes do setembro,
Ainda lembro do bate esporas no salão.

Batiam cascos buscando a chama criola,
Bem pachola com lenços a meia espalda,
Valem esmeralda pro Rio Grande missioneiro,
Por altaneiro, fez por fula um bochincho.

Moçada buena dos pagos de mis amores,
Nos corredores, dançaram e correram china,
Dobrando esquina correndo das peleias,
Nas luas cheias fazem comício pra vida.

Crias do pago que trazem por herança,
A confiança de campeiro domador,
Que por amor seguem as tradições,
Desses rincões da capital do Charolês.

                           Pelanka Culau

sábado, 7 de dezembro de 2013

Ao meu Itaroquen

Linda estância antiga
Nos pagos de Santo Antão;
Velho e xucro torrão,
Castilhense que me abriga.

Do Felício à Santa Fé,
Tudo que a vista alcança,
Não somem das lembranças,
As sangas e aguapés.

A coxilha carrega o tempo,
Das marcas da evolução;
Firmadas na tradição,
De laço atado nos tentos.

Pra que não sabe de onde vem,
Minha herança galponeira,
É de baixo da paineira,
Que brotou o Itaroquen.

                         Pelanka Culau









Tempos do meu andejo

Faz dias que ando no mundo,
Reculutando nova vivência;
Longe da minha querência,
Vivendo tempo profundo.

Alargando o pensamento,
Mirando morada nova,
Igual tatú fora da cova,
Nas ânsias do firmamento.

Nesses caminhos do andejo,
Saudade é palavra dura,
E nem com um gole de pura,
Eu froxo esse meu desejo.

Desejo de horizonte largo,
Onde a lua é companheira;
Brilha além da porteira,
O verde gosto do amargo.

                              Pelanka Culau


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O Rio Grande Americano

É lindo o Rio Grande quando amanhece verdejando numa primavera mormacenta. A cantoria dos João Barreiros e o relincho da tordilha velha. Até onde a vista alcança é verde e azul de céu, com revoadas de Biguá mirando açude alheio. Lindo meu Rio Grande, rincão dos pampas luzeiros.

Esses pagos "gringos" não tem o encanto que o Rio Grande tem.
Os pássaros que aqui gorjeam, não gorjeiam como o Sabiá.
O Rio Grande tem mais estrelas e nossos matos tem araçá. 
Os banhados tem mais vidas e nossas vidas mais valores.

Minha terra tem paineiras onde canta o Bem-te-vi.
Não permita Deus que eu morra, sem conhece o Itaquí.
Sem que desfrute os amores que não encontro por aqui.
Sem que aviste o Itaroquen, torrão gaúcho onde cresci.


                                                                                           Pelanka Culau







segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Aguentando o repuxo

Já dizia Cesár Oliveira e Rogério Melo: 
"Faz dias que esta saudade
Me cutuca e me incomoda
Pior que prego na bota
Quando empeça a castigar
Que troço mais sem sentido..."

Saudade nunca faz sentido, sentimento maleva que só se serve pra deixa o indío achicado. Coisita braba que judia e fica remoendo no peito. Tudo o que nos remete a pensamentos bons, nos traz saudade. 
Saudade de casa, saudade dos amigos, saudade de um lugar, saudade de um bicho, saudade de uma bóia gorda, de um trago de cana ou de uma bergamota colhida no pé. Saudade, saudade, saudade, tudo é saudade quando se está longe. 

A comida feita por mim mesmo não tem o mesmo gosto, a ligação para as pessoas que gosto não tem a mesma voz, as lembranças são diárias e cada vez menos passageiras. Saudade nunca faz sentido, e se fizesse? Qual sentido faria? O sentido da tristeza e da angústia? Do querer e não poder? Quase não existem bons motivos para a existência da tal Saudade.

A vida nos da escolhas e com elas, escolhemos junto as saudades, feitas para darmos valor ao que temos, ou tínhamos, antes de partir novo rumo. É tropeando pelo mundo que se vê o real valor das coisas.

Pro ano, se o Patrão permitir, vou matar minhas saudades. Uma por uma, sentindo o gosto do bem querer, como se fosse a primeira vez. Por enquanto, sigo meu rumo, relembrando o pago do Itaroquen. Saudade, saudade, saudade, pior que prego na bota! 

                                                                                                                  Pelanka Culau